Segunda-feira da terceira semana do Advento: Com Elias no deserto
Presença
Senhor, quando me sentir só, me lembre da Tua promessa: “Nunca estás só, estou sempre contigo, sim, até ao fim dos tempos”. (Mateus 28,20)
Escritura
1 Reis 19,11-13
[God] O Senhor disse-lhe: “Sai e conserva-te em cima do monte, na presença do Senhor! Ele vai passar”. Nesse momento, passou diante do Senhor um furacão, tão violento que fendia as montanhas e quebrava os rochedos, mas o Senhor não estava naquele vento. Depois do vento, a terra tremeu, mas o Senhor não estava no tremor de terra. Passado o tremor de terra, acendeu-se um fogo, mas o Senhor não estava no fogo. Depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa ligeira. Tendo Elias ouvido isso, cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna. Uma voz disse-lhe: “Que fazes aqui, Elias?”.
Reflexão
Na Bíblia, Deus comunica com o seu povo de muitas maneiras diferentes – a maior parte delas muito alto! Só num único lugar da Bíblia é que fala em “voz baixa e suave”, durante o seu encontro com Elias no deserto da Judeia.
O Elias de 1 Reis, capítulo 18, é um homem formidável, que está sozinho no Monte Carmelo contra 450 profetas de Baal e um rei hostil. Põe à prova os profetas de Baal, desafiando-os a trazer fogo à terra através das suas orações a Baal e, depois, ele próprio consegue fazer descer fogo e água do céu. Não duvida nem por um momento que Deus responderá ao seu apelo. Triunfa sobre os falsos profetas e encurrala o rei sinistro, que volta para a sua mulher, Jezabel, e lhe conta tudo o que Elias fez. Isto desperta a sua ira e ela jura tirar a vida a Elias.
Tendo dado provas tão espetaculares de que Javé é realmente Deus, Elias esperava com confiança que os israelitas apóstatas regressassem ao verdadeiro caminho. Não aconteceu. A única comunicação após o triunfo no Monte Carmelo foi a ameaça de morte de Jezabel.
É espantoso ver a rapidez com que o terror se apodera desta figura imponente do Antigo Testamento. Apesar das muitas provas que teve do poder e do apoio de Deus, foge de uma mulher furiosa para salvar a sua vida. Quando entra no deserto, já perdeu toda a esperança e toda a fé na sua missão. No final de um dia de viagem, grita com medo e exaustão: “Estou farto, Senhor. Tira-me a vida; não sou melhor do que os meus antepassados”. Elias está a dizer: “Eu não sou a pessoa que tu pensas que sou, Senhor. Não posso fazer estas coisas que me pedes. Não me peças para fazer mais.” O medo deu lugar a algo mais insidioso, o estado de acédia – descrito por Aquino como “a tristeza do mundo que causa a morte espiritual”, e por São João Cassiano como o “demônio do meio-dia”.
É tão fácil te identificares com Elias aqui. Os momentos de fé imensa podem se evaporar em segundos, dando lugar ao torpor e à indiferença. Em vez de vivermos, existimos. E, no entanto, há muita esperança neste episódio sombrio da história de Elias. Na solidão do deserto, um anjo vete trazer três noites de sono tranquilo e de bom sustento. Depois, revigorado, Elias viaja 40 dias e 40 noites até ao monte Horeb, onde, no silêncio do deserto, depois de passados o vento, o fogo e o tremor de terra, consegue ouvir a “voz mansa e delicada” de Deus, que lhe pergunta suavemente: “Porque estás aqui, Elias?” Pede duas vezes, e duas vezes Elias pode desabafar todas as suas queixas. E depois Deus o envia de volta pelo caminho por onde veio, para realizar mais e maiores obras do que todas as que tinha feito até então.
Oração
Senhor, me sinto reconfortado com esta história da fraqueza do maior de todos os profetas do Antigo Testamento – o profeta que apareceu juntamente com Moisés na tua Transfiguração. Elias, atingido por um desânimo paralisante, teve de ir para um deserto solitário e silencioso e aí desabafar com o Senhor todas as suas frustrações e medos. Naquele lugar aparentemente árido e pouco promissor, ele ganhou nova força e foi capaz de responder à pergunta: “Porque estás aqui? – não com palavras, mas iniciando uma nova viagem por um terreno antigo. No silêncio e na profundidade do Advento, me ajuda a encontrar novas forças para poder responder à tua pergunta: “Porque estás aqui?”
Amén
Glória a ti, Pai, fonte de todo o ser,
a ti, Jesus, Verbo feito carne,
a ti Espírito Santo, Consolador,
como era no princípio
agora e sempre.
Ámen.